Dica 34: Melancolia e Nostalgia

Quem conhece um cabrito de verdade, sabe que ele tem seus momentos de melancolia. Eu digo conhece de verdade, porque, em geral, quando um cabrito fica melancólico, ele se isola para chorar as próprias pitangas. O que pouca gente sabe é o motivo de tanta tristeza. E eu preciso confessar que levou um tempo até que eu entendesse que era pura nostalgia. Enrolou? Então vamos colocar os pingos nos “is”. Melancolia é um estado de profunda tristeza. Nostalgia é a saudade da pátria. Então cabritos ficam tristes quando estão fora do país em que nasceram? Bem, na verdade não. Vejam que eu escrevi pátria e pátria não é exatamente um país. País é território, é o que está nos mapas. Pátria é um conceito que engloba um envolvimento sentimental maior, tem uma idéia de mãe e filho, onde a pátria é a mãe e cada indivíduo do povo é um filho. Afinal, no nosso hino mesmo, a gente não canta “Ó país amado” é “Ó pátria amada”. Enrolou de novo? Vamos desenrolar, então. País é país e fim papo. Pátria é o território com o qual nós nutrimos uma relação familiar. Mas no caso dos cabritos, a nostalgia não se refere à saudade de um país que é também pátria (como Brasil na época da Copa do Mundo, por exemplo) e sim de um conceito que envolva berço. É... porque vamos subindo nossa montanha e ela é linda e desafiadora. E quanto mais subimos e pensamos que vamos nos sentir mais plenos, algo vai incomodando. E esse algo é uma saudade horrenda de algo que não sabemos bem o que é. Não saber é ainda mais torturante. Somos racionais. Adoramos saber! E essa coisa que falta vai corroendo e vai se tornando insuportável. Por um tempo, a gente acha que é só uma questão de subir mais na montanha, pois quando alcançarmos um patamar mais alto, vamos nos sentir satisfeitos. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, a ficha cai e percebemos que não é bem por aí. O que nos bate é nostalgia. É saudade do lugar onde nos sentiremos, finalmente, em casa. Para cada cabrito essa idéia de conforto, de berço, é diferente. Mas cada um tem esse mesmo anseio de se sentir acolhido e seguro. Porque ter o abrigo é algo instintivo, mas aqui estamos falando de um abrigo emocional. Detalhezinho: Essa pátria, esse abrigo, esse berço, podem ser (e eu acredito que é para a maioria dos cabritos) uma pessoa. É... sonhamos com uma pessoa que será nosso lar: o lugar para o qual voltamos para descansar em paz, sem paranóias, protegidos e quentinhos. Bonito, né? Por baixo dessa casca dura, somos pessoinhas românticas (eu já tinha escrito isso antes). :D Então lembre-se: a raiz da tristeza do seu cabrito é pura saudade. Uma saudade que, provavelmente, nem ele mesmo entende e fica meio chateado com isso. Não fique perguntando o que ele tem, porque é possível que nem ele mesmo saiba. Deixe-o quietinho para que ele possa entrar dentro do próprio poço e descobrir por ele mesmo. A vida toda, enquanto nós somos super sérios, responsáveis, fiéis e demonstramos consideração em horário integral, as pessoas nos decepcionam... A gente vira gato escaldado: fica com medo de água quente. E, claro, nós também queremos confiar em quem amamos, mas é quase instintivo esperar por uma decepção. O que fazer? Converse com calma, em uma hora em que as situação não esteja acontecendo, porque assim o seu cabrito vai ter mais clareza de pensamento. Diz pura e simplesmente: "Eu preciso que você confie em mim, como eu confio em vc, para que essa relação dê certo. você não concorda que precisamos ter esse nível de confiança mútua?" E não se descontrole se ele voltar a agir assim. Isso NÃO significa que ele não vai estar tentando mudar seu comportamento. Com o tempo, ele deve chegar lá! :D PS: Mas não o decepcione! Do contrário ele vai voltar à estaca zero e todo o esforço não vai servir de nada.