Dica 18: coices e sutilezas

Assunto delicado. As pessoas reclamam que as cabras dão muitos coices. Eu acredito que não é bem por aí. Acho que o problema pode ser dividido em duas partes: a primeira é que o coice de uma cabra é inesquecível. A segunda é que o fato de sermos discretos dificulta à pessoa que está nos irritando perceber que está passando dos limites. Nosso coice é inesquecível porque não falamos só por falar. Não gritamos. Somos especialmente frios e cortantes nessas horas. E, principalmente, dizemos as verdades mais duras de ser ouvidas. O outro aspecto do nosso coice vem do fato de sermos sutis. E convenhamos, esse mundo não sabe apreciar a nobre arte da sutileza: ou é no “vem cá meu bem” ou “saí para lá, vagabundo”. Não percebem os olhares para o outro lado. A impaciência de dedos que tamborilam ou a elegância do chamado ar ‘blasé’. Não entendem quando queremos desconversar ou quando dizemos de forma implícita que o papo não está agradando. Aí o pessoal ouve um “você realmente acredita que com sua insignificância está conseguindo me atingir? O máximo que você consegue é me exasperar pela insistência. Se é isso que você queria, parabéns, alcançou seu objetivo com mérito” e reclama que somos grossos. Mas afinal, quem é o mais grosseiro nessa situação? Então lembrem-se: muitas vezes, quando o capricorniano chegou ao estágio do coice, é porque ele já se cansou ou perdeu as esperanças de que a pessoa inconveniente perceba sua própria inconveniência e, nesse caso, sobra pouca alternativa além de ser franco e direto, independente de parecer sociável (afinal, essa etapa já foi ultrapassada ao nosso ver).